«Como era mais do que previsível (ainda assim, ganhei umas apostas…), José Sócrates declarou o apoio oficial do PS à candidatura presidencial de Manuel Alegre. Percebe-se bem porquê: ter Alegre como candidato oficial do PS faz com que o PS até pareça “de esquerda”, o que é particularmente conveniente numa altura em que se vê obrigado, pela crise, a ter que, enquanto Governo, tomar medidas ditas “de direita”. Depois, a verdade é que não havia mais ninguém – e, face ao vácuo, apoiar Alegre acaba por causar bem menos dissenções do que não apoiá-lo. Convenhamos que, entre Alegre e o vácuo, até parece bem razoável apoiar Alegre. O vácuo até pode ser bastante poético mas nunca o vi escrever um poema de homenagem ao Luís Figo…
A campanha de Manuel Alegre promete ser um calvário (e um festim para os “media”) – todos os dias, aparecerá pelo menos um socialista a proclamar não se reconhecer nesta candidatura –, mas isso não preocupa Sócrates. No fundo, ele prefere que Cavaco Silva seja reeleito – no que mais importa (leia-se, na economia), não há diferenças de monta entre os dois. O resto é areia para os olhos…
Sócrates já arranjou o seu “Ferreira do Amaral” (leia-se, o seu cordeiro pascal) e, como Pilatos, lavará as mãos do resultado final. Se Alegre perder, como espera, a culpa, bem se vê, será do Louçã. Ele, obviamente, tudo fez para o “seu” candidato ganhar…
Do lado da dita “direita”, após o susto do Cardeal-Patriarca, que, num gesto insólito, advertiu publicamente Cavaco Silva pela sua promulgação dos casamentos gay, ameaçando mesmo com a sua derrota nas urnas, PSD e PP já vieram sossegar os fiéis, assegurando que não há alternativa a Cavaco. Isto por uma simples mas suficiente razão: é ele o único que pode ganhar. O Senhor Cardeal-Patriarca devia saber que, para a dita “direita moderna”, isso chega e sobra. O tempo dos que preferiam morrer de pé, ainda que entre as ruínas, passou há muito…
Claro que todas estas contas podem sair furadas por causa do “terceiro homem”: Fernando Nobre. Não é só no cinema que “o terceiro homem” acaba por ter, no fim da história, o papel principal…»
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